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http://hdl.handle.net/10174/12315
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Title: | Ixodídeos da ilha da Madeira, contribuição ao seu estudo |
Authors: | Almeida, Víctor Carlos Torres de |
Advisors: | Caeiro, Victor Paes |
Keywords: | Ixodídeos Ilha da Madeira Biocenelogia Ecologia geral Biodiversidade |
Issue Date: | 1997 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | "Sem resumo feito pelo autor" - Está bem estabelecido que a Superfamília IXODOIDEA é causadora de graves injúrias à humanidade, constituindo um severo problema por todo o mundo ( Balashov, 1972, Bram, 1975 ). Ectoparasitas hematófagos obrigatórios tem, para além da sua actividade espoliativa, uma perniciosa acção veiculadora de agentes patogénicos, difundindo, quer ao Homem, quer aos animais domésticos, ampla cópia de doenças.
De acordo com Obenchain & Galun ( 1982 ) constituem o segundo maior vector das patologias que apoquentam a humanidade, imediatamente após os mosquitos, podendo aludir-se, de entre outras, à febre escaro-nodular e à borreliose de Lyme. Esta última maleita, aliás, vem firmando-se num problema cujos contornos cada dia se dilatam. E se as carraças colocam graves questões à Saúde Pública, os principais danos, ou pelo menos aqueles que se mostram como os mais visíveis, ocorrem a nível da economia pecuária e resultam da transmissão de diversos organismos patogénicos, como vírus, bactérias, nomeadamente Rickettsia e protozoários parasitas. Realmente, é bem conhecida a importância económica e sanitária dos microorganismos membros das famílias BABESIIDAE e THEILERIIDAE, e dos abrolhos que erguem à Sanidade Animal, em especial nas áreas geográficas da cintura inter-tropical.
Como ectozoários hematófagos, possuem uma considerável capacidade de ingestão de sangue, admitindo-se que cada fêmea esteja apta a extrair aos hospedeiros ruminantes de 0.5 a 2.0 ml por dia durante o período de repleção. Tal circunstância, em infestações severas, pode delimitar anemias potencialmente mortais. Mas à actividade esbulhadora considerada acresce aludir as infecções e os processos inflamatórios provocados nas áreas atingidas, não sendo outrossim de desprezar o desconforto que dimana da própria presença e acção mecânica dos artrópodes. A culminar, ainda é possível o posterior aparecimento de míases nos locais de fixação ( Soulsby, 1982 ), problema assaz marcante na exploração de ruminantes. Como é indubitável e embora a literatura examinada tenda a não focar a questão, é um facto que a actividade parasitária das carraças ir-se-á reflectir, sob um maior ou menor expoente, nas diversas variáveis produtivas dos efectivos pecuários.
O grosso dos IXODOIDEA tende a coincidir com as zonas quentes do globo, mais precisamente com o espaço delimitado pelos trópicos, o que todavia é uma constante dos grupos zoológicos. É, no entanto, notável a abundância de carraças que habitam o espaço biogeográfico Paleárctico e, mais propriamente, o continente Europeu, assomando tão a Norte quanto a Finlândia. Tal é o caso de Ixodes ricinus ( Linnaeus, 1758 ) que nesta região atinge até um coeficiente de parasitismo humano muito elevado ( Wahlberg, 1990 ). Evidentemente que cada
espécie possuí uma capacidade característica de adaptação ao meio, de agressão e transmissão das várias patogenias. É assim imperativa a agnição da ixodofauna integrante de todo e cada um dos distintos ecossistemas. E igualmente é necessário o reconhecimento da sua dinâmica, sempre peculiar.
Em relação à Ilha da Madeira o estudo da IXODOIDEA iniciou-se de algum modo cedo, já que a primeira menção deve-se a Newman, ainda no século XIX. De facto em 1899 e conforme o indicam Dias ( 1953 ) e Schulze ( 1939 ), aquele autor identificou, na cinta Funchalense, o prostriata 1. ricinus, sob a designação de 1. obscurus. Ulteriormente Schulze k 1939 ) assinalou a mesma espécie no Rabaçal, uma larva em Lacerta dugesii e um macho e duas fêmeas em Erica arborea.
Foi, entrementes, necessário o transcorrer de próximo de 40 anos para ser identificada outra espécie, Haemaphysalis puntacta ( Canestrini & Fanzago, 1877 ). Este reconhecimento deveu-se ainda a Schulze ( 1939 ) que encontrou, no Rabaçal, uma larva, em Lacerta dugesii e uma ninfa, não indicando, neste caso, de onde a colheu. Foi de novo Schulze ( 1939) que anotou a presença da nova espécie, Rhipicephalus lundbladi ( Schulze, 1939 ), descoberta no Paul da Serra, um macho em Pteris aquilina e que, hoje e de acordo com Dias ( 1953 ), é considerada como sinónimo de Rhipicephalus bursa ( Canestrini & Fanzago, 1877 ).
Posteriormente Dias ( 1953 ) assinalou Rhipicephalus sanguineus ( Latreille, 1806 ), R. bursa e Boophilus calcaratus calcaratus ( Biruta, 1896 ), actualmente Boophilus annulatus ( Say, 1821 ), atinados na zona de Gaula, em cães, os primeiros e em bovinos, os restantes. Deve-se ainda a Dias ( 1953 ) a sumariação das carraças da Ilha da Madeira, tendo o autor considerado que à mesma pertencem Boophilus schulzei ( Minning, 1934 ), de acordo com Tendeiro ( 1962 ) sinónimo de B. annulatus, 1. ricinus e Haemaphysalis cinnabarina puntacta ( Canestrini & Fanzago, 1877), actualmente H. puntacta, mais tarde também anotada para a Ilha por Caeiro & Simões
1989 ).
Como de leve se aceita, os elementos existentes ainda há não muitos anos diziam respeito a áreas muito restritas e limitadas à zona baixa, centro-Leste da Ilha e ao Rabaçal, este situado no Sul do altiplano do Paul da Serra. Efectivamente, já Dias ( 1953 ) aludia ao défice de informação sobre a fauna ixodológica madeirense. Tal vicissitude permitia supor o conspecto de distintas espécies de ixodídeos. De facto, durante a década de 80 e pelo Laboratório de Sanidade Animal da Universidade de Évora, Professor Doutor Victor Caeiro e Eng. Téc. Agrário Landerset Simões, foi assinalado Hyalomma lusitanicum Koch, 1844, que, no entanto, não foi publicamente referenci-
ado como fazendo parte dos ixodídeos da Região, sendo reidentificado por Almeida ( 1993 ).
Muito embora a escassez da inquirição autorizasse o conjecturar da presença de mais espécies, a verdade é que o acidente de tratar-se duma Ilha vulcânica, não emergente da disjunção das massas continentais e limitada em tamanho, assentia outrossim no supor de robustas limitações em termos de biodiversidade. Acresce considerar que a circunscrição geográfica, um pouco distante dos continentes Europeu e Africano e afastada da foz dos grandes rios e das correntes oceânicas com rota costeira, mais restrições levanta à dispersão biogeográfica das espécies, em especial dos vertebrados terrestres. Estes, com efeito, estão muito mal representados ( Mathias; & Mira, 1992 ). Obviamente, a reunião das circunstâncias mencionadas sugere e bem, uma algo exígua representação da Superfamília IXODOIDEA.
O estudo alargado dos ixodídeos inicia-se em Almeida ( 1993 A) que, no entanto, apenas menciona elementos tocantes às zonas de Machico e Caniçal, locais situados no extremo Leste da Vertente Sul da Madeira. Entrementes, já Almeida ( 1995 ) expõe uma caracterização abrangente elementar, esboçando o facto de 1. ricinus constituir a espécie melhor distribuída, aparecendo por todo o perímetro da Ilha e colonizando os habitats mais diversificados, caso as condições abióticas se mostrem as adequadas. Interessantemente, alude que a prevalência deste ixodídeo em Ovis aries L., considerado por Milne ( 1944, 1952 ), in Tendeiro ( 1962 ), como "a carraça do carneiro" em função da assiduidade com que importuna o pequeno bissulco, apresenta-se como muito reduzida. Na verdade, apenas lhe foi possível deparar com um único caso de parasitismo, num ovino da área rural do Funchal. Este facto mais alcança ao relatar que em algumas zonas de exclusivo pastoreio de ovelhas, firmadas no Sudeste da Ilha, a cotas voluteando ou ultrapassando claramente os 1000 m, não obteve quaisquer exemplares, quer nos gados, quer no solo, paragens de onde foi praticável a colecta de múltiplos H. puntacta. E isto muito embora o autor desfrutasse da oportunidade de obter 1. ricinus num cão de pastor do rebanho. Mas globalmente pôde comprovar o parasitismo por L ricinus, em Bos taurus, O. aries, Capra hircus, Canis familiares e Feles catus, similarmente ao considerado por Mathuschka et aí ( 1994 ) que, embora não aponte F. catus, mais refere Rattus rattus, rattus norvegicus, Mus musculus domesticas e L. dugesii..
É também em Almeida ( 1995 ) que se estabelece a ampla distribuição de H. puntacta pelas parcelas elevadas da Ilha da Madeira, sendo entretanto possível encontrar a espécie em actividade no solo a altitudes relativamente baixas, aquém dos 400 m, na costa Norte junto à Vila de São Vicente. Mas, interessantemente, apenas conseguiu testemunhar o parasitismo sobre O. aries. Mais aponta o autor um alinhavo primário da distribuição de Rhipicephalus Sp, comprovando o parasitismo de R. sanguineus em B. taurus e C. familiares e a sua colheita em locais tão distintos
quanto o são a área serrana da Santa, Porto Moniz, de características de altitude, relativamente frias e húmidas, a zona urbana do Funchal, de clima temperado e o Caniçal, igualmente de clima temperado, mas evidenciando alguma secura, sugestivos de uma apreciável disseminação. Já a localização dos locais de colheita de R. bursa, espécie exclusivamente atinada em B. taurus e na região do Caniçal, Machico, considerada como a mais seca da Ilha, sugere para uma dispersão mais circunscrita.
Almeida ( 1995 ) faz ainda referência às duas espécies pior representadas, H. lusitanicum e B. annulatus tão só reconhecidas em B. taurus no Concelho de Machico. De notar que B. annulatus havia sido assinalado por Dias ( 1953 ) na zona de Gaula, área onde Almeida ( 1995 ) quase não deparou com quaisquer carraças, circunstância que atribui à absoluta regressão das actividades agrícolas, substituídas pela indústria hoteleira. Posteriormente, Almeida, ( 1996 ) estudou a distribuição dos ixodídeos no planalto do Paul da Serra e aduziu algumas considerações sobre os factores de meio admissíveis como subjacentes às distribuições presenciadas.
Mas o alargar dos trabalhos não se restringiu à identificação das espécies de carraça, seus hospedeiros silvícolas, ferais e domésticos e zonas de distribuição. Na verdade, dilataram-se ao parasitismo humano e à veiculação do parasitismo hemotissular. Assim, o parasitismo humano por carraças está apreciado em Mathuska et aí ( 1994 ) e em Almeida ( 1995 ), tendo o primeiro dos autores considerado-o como bem frequente, em especial por 1. ricinus e o segundo constatado mesmo o caso de uma criança de sexo masculino, com cerca 2 anos de idade, hipertérmica e com um abcesso na nuca, local de onde havia sido removido um ixodídeo. E o parasitismo hemotissular é constatado por Almeida ( 1993 A ), que estabelece a presença de Babesia bovis, Babesia bigemina e Theileria mutans, segundo alguns T. anulata, nos bovinos serranos, especialmente B. bovis e também, embora sob uma menor prevalência, nos animais estabulados em palheiro. Idem acusa a existência da Rickettsialle Anapiasma marginale. Não alude, no entanto, nem aos parasitas hemotissulares de outras espécies animais, nem à transmissão ao Homem de quaisquer agentes patogénicos, sendo Mathuska et ai ( 1994 ) que assoma às implicações da IXODOIDEA em Saúde Pública, ao indicar a presença, em 1. ricinus, de uma bactéria morfologicamente compatível com Borrelia burgdorferi sensu lato, agente causal da doença de Lyme.
Muito embora com o acervo dos trabalhos aludidos fosse possível o começar a possuir-se uma imagem mais ampla do questão ixodídeo na Ilha da Madeira, continuava a urgir um melhor e mais aprofundado estudo. De facto, o seu alargamento, quer na já algo tratada vertente da distribuição espacial das espécies, quer nas ainda apenas afloradas componentes dos meios físico e biológico, para além de quiçá permitir uma superior caracterização dos problemas
económico e sanitário e o deparar com novas espécies ou endemismos, poderia lançar um pouco mais de luz sobre a complexa biologia das carraças. Pelo menos para algumas das espécies de ecologia ainda alvo de grande controvérsia, aproveitando as características típicas da Ilha relativamente à presença de poucas espécies de hospedeiros potenciais dos imagos e à acentuada distribuição climática vertical. Na verdade, a conjunção das ambiências, variando desde os meios frios dos picos mais altos até aos temperados, quase quentes, das zonas baixas da vertente Sul e atingindo o limiar da tropicalidade em alguns locais, com o facto de se tratar de uma área geográfica vizinha dos trópicos e assim caracterizada por um fotoperíodo dilatado e por uma radiação solar de grande intensidade e ângulo de incidência e com a existência de poucos hospedeiros característicos das formas imaginais, possibilitam um muito amplo conjunto de combinações, eventualmente aplainadores do discriminar dos limitastes ecológicos das diversas espécies.
É neste contexto que se desenvolve todo o trabalho subsequente. |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/12315 |
Type: | doctoralThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento
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