A cisterna como construção do vazio. Reflexão sobre a possibilidade de crescimento do Convento de Nossa Senhora da Saudação

Abstract

O conceito de vazio, na arquitetura, transcende a simples ausência física, torna-se um elemento fundamental na geração de espaço e na experiência sensorial dos ambientes construídos. Através de elementos como luz, escala e forma, o vazio molda a perceção espacial e simbólica dos espaços, estabelecendo um diálogo entre cheio/ vazio, e visível/ invisível. No Convento de Nossa Senhora da Saudação, em Montemor-o-Novo, esta dualidade manifesta- se através da sua morfologia de construção, com elementos acima e abaixo do solo. A análise aprofundada deste conjunto revelou a existência de uma lógica. As cisternas, apesar de serem estruturas subterrâneas e muitas vezes impercetíveis, estão sempre presentes em cada pátio, estabelecendo assim uma relação sistemática entre os espaços abertos e os subterrâneos. As cisternas, surgem então como dispositivos arquitetónicos que materializam o conceito de vazio e que, mesmo ocultas, moldam o ambiente visível, funcionando como elementos geradores de espaço. Reconhecer esta característica, permite compreender que o vazio associado às cisternas, não se limita apenas à componente funcional, mas atua também como um elemento estético e simbólico da narrativa arquitetónica do convento. A proposta de ampliação do Convento de Nossa Senhora da Saudação manifesta-se como um resultado natural da sua matriz construtiva, subvertendo a noção tradicional de crescimento arquitetónico. Em vez de adicionar nova matéria, propõe-se a criação de espaços através da supressão da mesma, enfatizando o vazio como elemento gerador de espaço. Esta abordagem permite equilibrar as componentes cultural, histórica, patrimonial e artística, respeitando a integridade do conjunto enquanto se adapta às necessidades contemporâneas e ao programa existente. Ao estabelecer um diálogo entre o passado e o presente, a intervenção assegura a continuidade da identidade e memória do convento. Através da exploração do vazio como uma ferramenta de projeto, fomenta-se uma reflexão que contribui para a valorização contínua do património cultural de Montemor-o-Novo; - ABSTRACT: THE CISTERN AS CONSTRUCTION OF THE VOID REFLECTION ON THE POSSOBILITY OF GROWTH OF THE CONVENT OF NOSSA SENHORA DA SAUDAÇÃO The concept of void in architecture transcends mere physical absence, becoming a fundamental element in the generation of space and in the sensory experience of built environments. Through elements such as light, scale and form, emptiness shapes the spatial and symbolic perception of spaces, establishing a dialog between full/empty and visible/ invisible. In the Convent of Nossa Senhora da Saudação, in Montemor-o-Novo, this duality manifests itself through its construction morphology, with elements above and below ground. An in- -depth analysis of this complex revealed the existence of a logic. The cisterns, despite being underground structures and often imperceptible, are always present in each courtyard, thus establishing a systematic relationship between the open and underground spaces. The cisterns then appear as architectural devices that materialize the concept of emptiness and that, even hidden, shape the visible environment, functioning as space-generating elements. Recognizing this characteristic allows us to understand that the emptiness associated with the cisterns is not limited to the functional component, but also acts as an aesthetic and symbolic element of the convent’s architectural narrative. The proposal to expand the Convent of Nossa Senhora da Saudação appears as a natural result of its constructive matrix, subverting the traditional notion of architectural growth. Instead of adding new material, it is proposed to create spaces by suppressing it, emphasizing the void as an element that generates space. This approach balances the cultural, historical, heritage and artistic components, respecting the integrity of the complex while adapting to contemporary needs and the existing program. By establishing a dialog between the past and the present, the intervention ensures the continuity of the convent’s identity and memory. Through the exploration of emptiness as a design tool, a thought process is fomented that contributes to the ongoing enhancement of Montemor-o-Novo’s cultural heritage.