Implicações entre fenomenologia e teologia cristã no pensamento de Martin Heidegger

Abstract

A presente tese tem como ponto de partida a conferência Fenomenologia e teologia, ministrada em 1927 e repetida em 1928, pelo filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), e tem como principal objetivo apresentar três principais pontos de implicação entre o conceito de filosofia, como ciência ontológico-transcendental, cujo método é a fenomenologia, e o de teologia cristã, apresentada, na conferência, na condição de ciência ôntico-positiva. Para tanto, argumenta-se aqui a favor da hipótese de que a conferência pode ser entendida como um des-dobramento da ontologia fenomenológico-hermenêutica, de modo que a relação aí proposta por Heidegger entre filosofia e teologia deve ser posta sob o pano de fundo da pergunta tanto pelo sentido de ser do ser em geral e, especificamente, pelo sentido de ser do aí-ser, quanto daquela pela cientificidade da ciência em geral. Nesse sentido, a presente tese está desenvolvida em três seções: na primeira se investiga o conceito de fenomenologia, tal qual exposto no §7 de Ser e tempo (1927), indicado como o guia metodológico da conferência, pois, a partir disso, torna-se possível entender a razão de a filosofia ser uma ontologia fenomenológico-hermenêutica; na segunda se apresenta o conceito ontológico-existencial de ciência, que é justamente a condição de possibilidade para se entender o porquê de a teologia cristã ser uma ciência ôntico-positiva e a partir de onde se pode descrever seu positum originário, a fé, bem como justificar por que sua cientificidade específica é historiológico-sistemático-prática; por fim, na terceira se justifica por que a filosofia serve de corretivo ontológico para o conteúdo ôntico dos conceitos teológico-fundamentais e por que essa correção é algo exigido pela própria teologia e não imposto pela filosofia. Nesse cenário, também será possível entender que há duas gramáticas na conferência: uma que aborda filosofia e teologia como distintas ciências e outra que assume a filosofia e a fé como opostos modos de ser do aí-ser, o que leva Heidegger a pôr em questão o caráter de ciência da teologia. Conclusivamente, faz-se uma breve retrospectiva dos pressupostos teóricos da conferência, tal como trabalhados ao longo da tese; também são trazidos aspectos contribu-tivos à área de Ciências da Religião e Teologia e à de Filosofia; por fim, aponta-se uma prospectiva de pesquisa que, de certo modo, pode dar continuidade a esta aqui desenvolvida; IMPLICATIONS BETWEEN PHENOMENOLOGY AND CHRISTIAN THEOLOGY IN MARTIN HEIDEGGER'S THOUGHT ABSTRACT: This thesis takes as its starting point the conference Phenomenology and Theology, given in 1927 and repeated in 1928 by the German philosopher Martin Heidegger (1889-1976), and its main goal is to present three main points of implication between the concept of philos-ophy, as an ontological-transcendental science, whose method is phenomenology, and that of Christian theology, presented in the conference as an ontic-positive science. To this end, it is argued here in favor of the hypothesis that the conference can be understood as an unfolding of phenomenological-hermeneutic ontology, so that the relation proposed therein by Heidegger between philosophy and theology should be placed against the background of the question both meaning of being in general and, specifically, of the meaning of being of Dasein, and of the scientificity of science in general. In this sense, this thesis is developed in three sections. In the first one the concept of phenomenology is investigated, as exposed in §7 of Being and Time (1927), indicated as the methodological guide of the conference, because, from this, it becomes possible to understand the reason why philosophy is a phenomenological-hermeneutic ontol-ogy. The second presents the ontological-existential concept of science, which is precisely the condition of possibility for understanding why Christian theology an ontic-positive science is and from where it can describe its original positum, faith, as well as to justify why its specific scientificity is historiological-systematic-practical. Finally, the third section justifies why phi-losophy serves as an ontological corrective to the ontic content of theological-fundamentals concepts and why this correction is something required by theology itself and not imposed by philosophy. In this scenario, it will also be possible to understand that there are two grammars in the conference: one that approaches philosophy and theology as distinct sciences and another that assumes philosophy and faith as opposite modes of being of the there-being, which leads Heidegger to question the character of science of theology. In conclusion, a brief retrospective is made of the theoretical presuppositions of the conference, as worked on throughout the thesis; some contributive aspects to the area of the Religious Studies and Theology and to the area of Philosophy are also brought forward; finally, we point out a research prospect that, in a certain way, can give continuity to the one developed here.