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http://hdl.handle.net/10174/15605
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Title: | Manipulação, tradução literária e identidade: da recepção das Lettres Portugaises como esbulho lterário e nacional |
Authors: | Paradinha, Maribel Malta |
Advisors: | Zurbach, Chrstine Alves, Hélio |
Keywords: | Literaturas Literatura portuguesa Estudos literários |
Issue Date: | Nov-2004 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | Conhecidas desde sempre como um enigma literário, as Lettres Portugaises só entram em Portugal pela tradução 167 anos depois de serem já conhecidas em França e um pouco por todo o mundo. Apresentadas como «traduções», «versões», «tentativas de texto», «restituições» ou não se fazendo acompanhar de nenhuma destas denominações e sonegando nomes de tradutores, nem sempre estes textos foram recebidos pela sociedade portuguesa como textos traduzidos da cultura literária francesa, mas como um texto propício à alimentação da disputa sobre a velha questão da origem, colocando em causa as lutas de poder entre as culturas implicadas, francesa e portuguesa. As traduções lusas da obra, ora mais «source-oriented» ora mais «target-oriented», revelam uma forte instabilidade estilística, numa pluralidade de textos que, em alguns casos, pouco têm em comum. Desde a tradução do Morgado de Mateus, em 1824, a maioria destas traduções apresenta-se, até quase ao final do século XX, como um processo com fins restitutivos da obra à nação portuguesa, agenciado pelos próprios tradutores, bem como por estudiosos e por uma elite literária, etnológica e histórica. Tal pretexto restitutivo da tradução das Lettres portugaises visava a revelação do hipotexto (o pretenso texto original em língua portuguesa, escrito pela religiosa de Beja) e convinha perfeitamente à ideologia romântica e estado-novista do chamado «nacionalismo português». Neste sentido, a reincorporação da obra no panorama literário luso passa por uma almejada (re?) apropriação do texto, resultante de manipulações várias que vão desde a escolha numérica das cartas a traduzir, dos títulos e do tratamento do texto até à instituciónalização canónica da obra, quer por via editorial, quer pelo sistema de ensino português. As traduções das Lettres portugaises revelaram (e, em certa medida, revelam ainda) a extraordinária importância da figura simbólica de Mariana Alcoforado e das Cartas que lhe são atribuídas para uma vitalidade cultural reclamada pela sociedade portuguesa, na medida em que representaram não só o protótipo de um sentimento da «raça», tido como especificamente português (o «amor-adoração», sempre associado à «saudade»), e um importantíssimo modelo de renovação linguística, como ainda um instrumento de afirmação de identidade cultural, estética e ideológica. Apesar deste préstimo e contrariando a natureza alocêntrica da tradução, a recepção desta obra em Portugal patenteia a continuidade do diálogo com o passado (necessitado de desígnios restitutivos) e o ensimesmamento do país.
/*** Résumé - Connues depuis toujours comme une énigme littéraire, les Lettres portugaises n'arrivent, traduites, au Portugal, que 167 ans après avoir déjà été connues en Franca et un peu partout dans le monde. Présentées comme des «traductions», des «versions», des «tentatives de texte», des «restitutions» ou n'étant accompagnées d'aucune de ces appellations, ou bien encore privées de toute indication concernant 1'identité des traducteurs, elles n'ont pas toujours été reçues dans la société portugaise comme des textes traduits de la culture littéraire française. Ils apparaissaient plutôt comme des o textes» propices à nourrir la dispute sur la vieille question de l'origine des Lettres, mettant en cause les luttes de pouvoir entre les cultures française et portugaise. Les traductions lusitaniennes de loeuvre, tantôt plus adéquates, tantôt plus acceptables, révèlent une forte instabilité stylistique dans de nombreux textes qui, dans certains cas, ont peu de choses en commun. Depuis la traduction du Morgado de Mateus, en 1824, jusqu'à la fin du XXème siècle, la plupart de ces traductions se présente comme un processus, engagé par les traducteurs eux-mêmes, ainsi que par des chercheurs et une élite littéraire, ethnologique et historienne, ayant pour but de restituer l’oeuvre à la nation portugaise. Cette prétention de restitution de la traduction des Lettres portugaises visait surtout à révéler l’hypotexte (le soidisant texte original en langue portugaise, écrit par la religieuse de Beja) et convenait parfaitement à ce que l'on appelait le «nationalisme portugais», propre à l'idéologie romantique et «estado-novista». A partir de là, la réintégration de l'oeuvre dans le paysage littéraire lusitanien se distingue par un ardent désir de (ré ?) appropriation du texte, dont on perçoit les traits les plus, saillants à travers de nombreuses manipulations qui vont du choix numérique des Lettres à traduire, des titres et du traitement du texte, jusqu'à l’institutionnalisation canonique de l’oeuvre, soit par la voie éditoriale, soit par le système d'enseignement portugais. Les traductions des Lettres portugaises ont révélé (et révèlent encore, d'une certaine manière) l'extraordinaire importance de la figure emblématique de Mariana Alcoforado, tout comme des Lettres qui lui sont attribuées, pour une vitalité culturelle réclamée par la société portugaise. Car, non seulement elles ont représenté le prototype d'un sentiment de o race», considéré comme spécifiquement portugais «l'amour-adoration», toujours associé à la «saudade») et un modèle très important de renouvellement linguistique, mais également un instrument d'affirmation de l'identité culturelle, esthétique et idéologique. Malgré cette contribution et contrariant la nature allocentrique de la traduction, la réception des Lettres au Portugal révèle la continuité du dialogue avec le passé (qui a toujours eu besoin de projets de restitution) et le renfermement du pays sur lui-même.
/*** Abstract - The Lettres Portugaises, which have always been known as a literary enigma, are translated into Portuguese 167 years after they were known in Franca and in other countries as well. The Lettres Portugaises have either been presented as «translations», «versions», «text experiments», «restitutions» or have skipped these denominations altogether and withheld translators' names. Therefore, not always have these texts been received by the Portuguese society as a translation from the French literary culture, but as a text which favours the debate over the ancient question of origin, thus questioning the power fights between the two cultures implied, the French and the Portuguese. Alternately source-oriented and target-oriented, the Portuguese translations of the Lettres reveal a strong stylistic instability in a plurality of texts that, in some cases, have little in common. Ever since the translation done by Morgado de Mateus in 1824 and almost till the and of the 20th century, the majority of these translations appeared as a process by which the Lettres were meant to be restituted to the Portuguese nation. The agents involved in this process were the translators themselves, as well as researchers and a literary, ethnological and historical elite. Such restitutive pretext in the translation of the Lettres Portugaises aimed to reveal the hypotext (the alleged original Portuguese text, written by a nun that lived in Beja) and perfectly suited the romantic and political ideology of the socalled «Portuguesa nationalism». In this sense, the reincorporation of the Lettres in the Portuguese literary panorama was linked to a desired (re?)appropriation of the text. This derived from several manipulations, starting in the numerical choice of the letters that are meant to be translated, the titles and the way the text was treated and going on to the Lettres' canonical institutionalization, either through publishing or via the Portuguese school system. The translations of the Lettres Portugaises have shown how extraordinarily important the symbolic figure of Mariana Alcoforado is, as well as the Letters which have been attributed to her, in the process of cultural vitality reclaimed by the Portuguese society. This is accounted by the fact that they have represented not only the prototype of a feeling of «race» held as specifically Portuguese «love-adoration», always associated to «saudade») and a very important model of linguistic renovation, as also an instrument of cultural, esthetic and ideological identity. Despite this merit and opposing the translation's character – centered in the other - the reception of the Lettres Portugaises in Portugal evinces the continuity of a dialogue with the past (which needs restitutive aims) and the country's self-absorption. |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/15605 |
Type: | masterThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Mestrado
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