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http://hdl.handle.net/10174/12352
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Title: | Circuitos de produção e circulação da música instrumental em Portugal entre 1750-1820 |
Authors: | Silva, Vanda de Sá Martins da |
Advisors: | Nery, Rui Vieira |
Keywords: | Música instrumental Produção musical Circuitos de produção Musicologia |
Issue Date: | 2008 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | "Sem resumo feito pelo autor" - A música instrumental durante o Antigo Regime tem sido objecto de um tratamento parcial, ou secundário, dada a importância primordial que a música sacra e operática conheceram em Portugal, ocupando assim a maior fatia da produção musicológica consagrada a este período. Acresce que, ainda por comparação, o reportório conhecido é diminuto, devido às condições de produção e circulação serem muito restritas. Compunha-se pouca música instrumental que, normalmente conhecia uma escassa circulação, sendo pouco copiada, para além de não se investir praticamente na sua publicação. O presente estudo concentrou-se, por isso, nas problemáticas relacionadas com os usos e funções dos reportórios instrumentais nos diversos contextos, a par dos processos relacionados com a sua circulação e difusão.
O quadro de produção e circulação musical durante o Antigo Regime dependia, no essencial, do poder da Coroa enquanto modelo, autoridade legitimadora, mecenas e, sobretudo, entidade empregadora. Esta influência vasta projectava-se em todos os reportórios dominantes, de forma tão mais evidente quanto a sua repercussão pública e eficácia na representação das máximas instituições de poder.
A festa sacra, de carácter eminentemente público' e abrangente, cumpria um papel nuclear enquanto pólo difusor de fé e cultura, potenciado pelo extraordinário investimento a nível dos meios e recursos, ao longo do século XVIII. D. João V (1707-1750) instituiu, como estratégia de concretização do Absolutismo Régio, o investimento no "Teatro Eclesiãstico',2 que se materializou num complexo musical sacro, com um raio de acção de grande amplitude, ao serviço de uma representação espectacular do poder régio.
A estratégia de D. José 1 (1750-1776) começou por se concentrar na representação do prestígio e poder monárquicos na esfera secular, nomeadamente através da ópera, alargando assim a influência italiana, em termos de reportório e dos músicos estabelecidos no nosso país.3 A partir do terramoto de 1755 e ao longo do reinado de sua filha, D. Maria 1 (1777-1816), no entanto, a ópera régia recuou para um estatuto de natureza mais privada de entretenimento da Família Real, em paralelo com o perpetuar de um grande investimento no aparato litúrgico da Capela Real e da Patriarcal. Paralelamente, assistiu-se ao gradual desenvolvimento e integração de práticas musicais associadas a modelos de sociabilidade emergentes, como é o caso dos concertos e bailes públicos, bem como da prática musical doméstica, sobretudo a partir da década de 1790.
O grau de complexidade que aparece associado à música instrumental decorre em especial do facto deste reportório circular simultaneamente no universo das tradicionais funções de representação pública do Antigo Regime, i.e., a liturgia e as festas associadas às efemérides régias, e ainda no âmbito de novas práticas culturais como o concerto público e as assembleias privadas, que estavam a disseminar-se na classe média.
O culto das assembleias vai conhecer, a partir do período de recuperação gradual após o terramoto, um processo de acelerada difusão que conta, na primeira linha de influência, com o protagonismo da comunidade de estrangeiros aliada às elites nacionais, seja a alta nobreza, seja a alta finança.4 No seio do salão, os estrangeiros imprimem um olhar correctivo que, quando documentado nos relatos, fornece informações preciosas sobre o modelo em causa. O salão cosmopolita afirma-se como um projecto pombalino com o intuito de validar socialmente a elite financeira recentemente promovida, a qual, como se sabe, a propósito da fundação do Teatro São Carlos, tem um
papel primordial na implementação de novas práticas musicais, em concreto no que se refere à música instrumental como se confirmará neste estudo.
A abertura do salão doméstico, onde se instala a prática das assembleias, passa a configurar-se como um espaço plural, diferenciado em patamares socio-económicos, que assegura a circulação de modas, práticas culturais e reportórios, num jogo de espelhos e de imitações, estimulado pelas estratégias de distinção. Esta dinâmica favorece um cenário de "ilusão dos salões" (Cf. Monteiro 1998) a partir do momento em que passa a aspirar-se à mobilidade social, que parece agora mais fácil de concretizar - embora em grande medida só na aparência - através do convívio em assembleias socialmente heterogéneas.5
O processo de implementação dos concertos públicos decorre da influência da comunidade estrangeira estabelecida em Lisboa, a par da já referida emergência de novos modelos de sociabilidade. Trata-se assim de estudar e constatar a existência de uma sociabilidade que incorpora práticas musicais, que mau grado a sua importância no quadro da actividade dos músicos profissionais, dos consumos comercializados, bem como da circulação de reportórios, escapa à crónica oficial. Esta, veiculada pelos principais orgãos de informação, privilegia naturalmente os relatos de associados a efemérides régias ou festividades sacras. |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/12352 |
Type: | doctoralThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento
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