|
Please use this identifier to cite or link to this item:
http://hdl.handle.net/10174/11207
|
Title: | Vozes do silêncio em Harold Pinter: ameaça, enigma, memória |
Authors: | Castro, Carla Isabel Ferreira de |
Advisors: | Centeno, Yvette K. |
Keywords: | Vozes do silêncio Harold Pinter Afluentes do silêncio O silêncio no palco Literatura inglesa |
Issue Date: | 2006 |
Abstract: | "Sem resumo feito pelo autor"; What when words gone? None for what then. But say by way of somehow on somehow with sight to do. With less of sight Still dim yet-. No. Nohow so on. Say better worse words gone when nohow on. Still dim and nohow on. All seen and nohow on. What words for what then? None for what then.
Samuel Beckett
INTRODUÇÃO - O presente trabalho propõe uma análise ao estudo do silêncio nos textos dramáticos de Harold Pinter e à forma como a importância do não dito foi trabalhada, em alguns desses textos, nas encenações para televisão e em quatro filmes, sob o signo da ameaça, do enigma e da memória.
Uma dissertação em Literatura Inglesa, no contexto da dramaturgia de um autor aliada a uma temática específica, pressupõe, à partida, uma concentração na análise do texto e na importância dos seus conteúdos semânticos, a par com uma contextualização do tema proposto. Ao optar por centrar a reflexão sobre o silêncio, escolhi um objecto que tem estado pouco enfatizado, no âmbito da análise crítica contemporânea, que tem vindo a denotar uma orientação mais voltada para a faceta política de Pinter. Porém, o estudo do silêncio, nas peças do autor, foi um dos primeiros pontos realçados na abordagem de 1970, quer de Esslin, quer de Hollis, quando ainda era indefinida a denominação deste teatro, rico em espaços de silêncio. O que, posteriormente ficou conhecido como género "pinteresco" encontra a
sua matriz no uso do silêncio e na introdução das pausas férteis.
Assim, o que pre tendo com es te es tudo é uma r equal i f icação da
te rminologia usada para de fi n i r os t ipos de si lêncio que Pinte r
materializa.
Para que o tema possa ser explorado pertinentemente a divisão
em quatro capítulos afigura-se como a mais adequada para traçar uma
rota precisa que se concentre em Pinter, no silêncio e na perspectiva
da escr i ta e da t ransmutação par a o pa lco e para o cinema , não
obstante contemple as vias que foram contr ibuindo, a o longo de
vários momentos na história da literatura, para a presente época.
Como t e r e i o p o r t u n i d a d e d e d e s e n v o l v e r , o s i l ê n c i o
contemporãneo é abrangente, aglutinou diversas áreas, que não se
reduzem ao domínio artístico. O mutismo nasce de uma pulsão que
pede um intervalo, no meio do ruído, que implora um espaço próprio,
sem voz. É, cada vez ma i s , uma f o r ça que se que r "ouvi r " e é ,
igualmente, algo que f az par te da exi stência, num contexto não
deliberado. Vivemos a época que redimensionou o valor do silêncio,
assumindo sem complexos o cansaço das palavras, o esforço pela
tor r en t e ine s got á ve l d e s i gni f i c ant e s que p a r e c em v a z ios d e
significados, por excesso de nomeação. Ao mesmo tempo, o silêncio
mantém uma aura de mistério.
Ao contrário do aforismo, quem cala quase nunca consente, pois
o silêncio é o propulsor do desconforto e da vontade por parte do
int e r l ocu tor em encont r a r uma soluç ão, t ent a r d a r voz aos
pensamentos que ficam por dizer, criando alternativas para que o
discurso irrompa e, apazigúe a sensação de vazio deixada. Eduardo Prado Coelho, em Maio de 2004, admite algo que traduz com exactidão este sentir, que poderia ser aplicado à forma como o silêncio é empregue por Pinter:
Sinto que as palavras - que sempre foram amigas e fiéis - funcionaram por vezes como um refúgio. Continuo a usar as palavras e a tratá-las o melhor que sei, mas estou muito cansado delas. Procuro cada vez mais o silêncio que poderá vir depois das palavras. E por isso mesmo não devo nesta matéria dizer mais nada.]
Tal questionar, apesar de não ser novo - encontramo-lo quer na poesia de Mallarmé, de Jorge de Sena, ou de Hõlderlin, quer nos dramas de Maeterlinck e Beckett, para citar alguns exemplos - veio accionar um processo de aquiescência da qualidade preponderante do silêncio, na divulgação que é dada ao fenómeno de permanecer calado, não porque nada se tem a dizer, mas numa perspectiva mais trágica da vida, porque já nada se tem a dizer de novo, ou já nada vale a pena ser dito, utilizando as mesmas palavras de sempre. |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/11207 |
Type: | doctoralThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento
|
Items in DSpace are protected by copyright, with all rights reserved, unless otherwise indicated.
|