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http://hdl.handle.net/10174/11178
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Title: | Da essência do jardim português |
Authors: | Carapinha, Aurora da Conceição Parreira |
Keywords: | Paradigma do jardim português Sentimento e realidade Á sombra dos vergéis Organização do espaço Elenco vegetal Ambiências Arte dos jardins |
Issue Date: | 1995 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | "Sem resumo feito pelo autor"; Após o estudo Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal, da autoria de Ilídio Alves de Araújo, no limiar dos anos sessenta, mergulhou-se num interregno de quase vinte anos sem que tenha surgido alguma obra de vulto. Só recentemente, sobretudo a partir de meados dos anos oitenta, assistimos a um interesse crescente sobre a temática do jardim em Portugal. Os trabalhos desta nova fase da historiografia da arte dos jardins são, essencialmente, estudos parcelares, uns com carácter meramente de divulgação, outros de índole monográfica, iconográfica e simbólica, outros, ainda, focando aspectos de salvaguarda e de reabilitação deste património construído. Afastam-se, por isso, do princípio metodológico iniciado por Ilídio de Araújo, que se propunha a uma reflexão global sobre a arte paisagista e a arte dos jardins em Portugal.
Com toda a importância que este e aqueles estudos mais parcelares têm, consideramos que ficou, naturalmente, por responder (ainda que perpasse por toda a obra de Ilídio de Araújo) a questão da existência ou não do jardim português, da sua
especificidade, da sua essência e da sua integração no contexto europeu.
É toda esta vasta e complexa problemática que as páginas que se seguem
procuram abordar.
Elas resumem, no essencial, as investigações a que procedemos
sobre esta temática, a vivência e as ideias que fruímos e construímos nos
últimos dez anos. São, de outro modo, o resultado da conciliação de
dois momentos distintos: um, subjectivo, decorrente de uma experiência
vivencial em alguns jardins portugueses - que o ensino da Arte dos Jardins
nos proporcionou - do qual surgiu um conceito de Jardim; o outro objectivo,
construiu-se a partir de uma investigação, tão vasta quanto possível, na
procura de um quadro teórico que rebatesse, sustentasse ou ampliasse o
conceito decorrente da vivência espacial.
O estudo da História da Arte dos Jardins ensina-nos que a
Europa Cristã conhecera pela primeira vez o jardim como espaço lúdico
e como objecto estético por excelência, a partir do Renascimento. Desde
então, o jardim liberta-se, para sempre, dos preceitos hortícolas,
autonomiza-se, ordenando-se de acordo com os princípios teoréticos
emanentes dos tratados de arquitectura, que emergem na cultura
humanista.
À semelhança de outras culturas também o jardim em Portugal
se constitui como interface; é mediador entre o rural e o urbano,
proporciona vivência lúdica e estética num quadro natural vivo, ainda que
artificioso. Contudo, a realidade e experiência que dele fizemos
conduziram-nos a caminhos distintos daqueles que o estudo da Arte dos
jardins nos havia apontado. Embora, no panorama cultural português,
não fossem desconhecidos os princípios históricos veiculados pela
tratadística humanista, onde se encontravam expressos os princípios de
autonomização e libertação do jardim, em Portugal, a Arte de Jardinar distanciava-se dos preceitos aí expostos, ao ponto de o jardim, raramente, se assumir como o espaço lúdico por excelência e se concretizar num diálogo constante entre o recreio e a produção. Há quase como que uma perpetuidade in illo tempore do conceito de jardim utilitário, tão querido aos ideais medievos.
Para se compreender este distanciamento, esta diferença (que nunca assumimos como inferioridade), que o jardim português apresenta, em relação aos seus pares europeus, foi necessário fazer uma incursão na ideia de jardim, na sua essência, na cultura lusíada e nas diferentes formalizações que aquela apresenta.
Não é fácil dissertar sobre a especificidade do jardim português. As fontes iconográficas escasseiam e a análise e compreensão total do objecto de estudo é posta em causa pela precaridade e efemeridade a que estes sistemas arquitectónicos naturais (que são os jardins) estão sujeitos. Se a este facto aliarmos o de que a arqueologia de jardins é uma disciplina esquecida em Portugal, estamos, pois, perante a radical alteração ou quase inexistência de suporte físico do objecto de estudo.
De qualquer forma ao planear o trabalho pensámos que estes obstáculos não deveriam ser considerados, nem poderiam por conseguinte ser impeditivos de uma aproximação à essência e à especificidade do jardim lusíada. Seria preciso, isso sim, encontrar um outro percurso, mesmo que fosse um pouco labiríntico, para atingir o nosso objectivo.
A complexidade do tema obrigaria a uma acumulação e manipulação de dados muito díspares obtidos a partir do maior número possível de fontes, das mais diversas proveniências: descrições de geógrafos, de viajantes, crónicas, relatos do quotidiano, obras literárias, instrumentos legislativos, estudos de índole etimológica, agronómica, botânica, farmocopaica, constituindo um corpo de referências preciosas (ainda que heterogéneo), que ajudaria a compreender melhor o sentimento, a forma e o papel do jardim na cultura portuguesa. Foi este o caminho, paciente e moroso, que seguimos.
Temos plena consciência de não termos esgotado o assunto, e de não ter explorado todos os meandros que se ofereciam alguns dos quais nos vimos mesmo obrigados a abandonar, pois apresentavam-se tão complexos e vastos, como o próprio tema em questão.
A dissertação estrutura-se em duas partes: À Sombra dos Vergéis e A Reinvenção da Memória - A Quinta de Recreio as quais correspondem, em nossa opinião, a dois momentos distintos da Arte dos Jardins em Portugal.
Em À Sombra dos Vergéis aborda-se aquilo, que consideramos ser o modelo da arte de Jardinar em Portugal; desvenda-se o mundo das hortas, das almuinhas, dos cortinhais, dos vergéis e dos hortos, das razões da constância e riqueza formal e vivencial que aquelas paisagens ideais apresentam. |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/11178 |
Type: | doctoralThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento
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