Usos, consumos e relações simbólicas do açúcar: trajetória ibero-americana do alfenim (da Idade Média à Contemporaneidade)

Abstract

O alfenim é uma massa branca de açúcar seca, dura e quebradiça. Popularmente considerado um confeito, ou mesmo um doce, ele é um tipo de «açúcar puxado», classificado, a princípio, como uma qualidade de açúcar e, nos dias de hoje, compreendido como um produto de confeitaria. Esta tese investiga a trajetória do alfenim em uma perspectiva da longa duração e evidencia os usos, consumos, sentidos e significados atribuídos ao açúcar e a esse confeito no decorrer do tempo. Os capítulos desta investigação apresentam o alfenim como materia medica na época medieval, a sua introdução na cozinha como um bem alimentar, testemunhado pelos receituários culinários e como parte do ofício do confeiteiro no período moderno, bem como o seu uso plástico e decorativo na mesa Renascentista, nas práticas de sociabilidades e em ritos celebrativos religiosos. Atualmente, o alfenim continua a desempenhar uma função como artefato-alimento ritualizado e é reconhecido como um patrimônio cultural. Como o alfenim trilhou esse caminho? Como atravessou o tempo? Como esse produto se transformou de medicamento no Medievo a um doce devocional reconhecido como um patrimônio alimentar na contemporaneidade? Fundamentada sobretudo por fontes históricas dos séculos X ao XXI, esta tese historiciza o alfenim com o propósito de compreender como as sociedades conceberam e idealizaram os usos e consumos desse artigo, em um percurso longevo de construção de signos de cura, luxo, prazer e de celebração, evidenciados por suas morfologias, iconografias, estéticas e funções rituais e simbólicas. Embora a pesquisa faça um recuo multissecular a fim de localizar as origens do doce no Oriente, a tese reconstrói um lado da história, sob a perspectiva de sua trajetória no Ocidente, com um enfoque maior ao mundo ibero-americano no período moderno e na contemporaneidade - Uses, consumption, and symbolic relations of sugar: the Ibero-American trajectory of fanid (from the Middle Ages to Contemporary times). Abstract: Fanid is a dry, hard and crumbly white mass of sugar. Popularly considered a confection, or even a sweet, it is a type of «pulled sugar», initially categorised as a quality of sugar, and nowadays understood as a confectionery product. This thesis investigates the trajectory of fanid from a long-term historical perspective and highlights the uses, consumption, meanings and significance attributed to sugar and to this confection over time. The chapters of this study present the fanid as materia medica in medieval times, its introduction into cuisine as a foodstuff, as evidenced by culinary recipes, and as part of the confectioner’s trade in the modern period, as well as its aesthethic and decorative use on the Renaissance table, in socializing practices and in religious celebratory rites. In present times, the fanid continues to play a role as a ritualized food-artifact and is recognised as cultural heritage. How has the fanid made this journey? How has it passed through time? How has this product transformed from a medicine in the Middle-Ages to a devotional sweet recognised as food heritage in the present day? Based primarily on historical sources from the tenth to the twenty-first centuries, this thesis historicizes the fanid with the aim of understanding how societies have conceived and idealised the uses and consumption of this item, in a long journey of constructing signs of healing, luxury, pleasure and celebration, evidenced by its morphologies, iconographies, aesthetics, and symbolic and ritual functions. Although the research covers several centuries in order to locate the origins of the sweet in the East, the thesis reconstructs one side of the history, from the perspective of its trajectory in the West, with a greater focus on the Ibero- American world in the modern and contemporary periods.