Caracterização de claudicação com origem nas regiões metacarpiana e /ou metatarsiana proximais utilisando sistemas de análise objetiva de movimento

Abstract

Introdução e objetivos: A dressage e a Alta Escola são as disciplinas equestres nas quais os cavalos têm a maior taxa de ocorrência de desmite proximal do ligamento suspensor do boleto (LSB). A claudicação é uma grave consequência desta patologia. Considerando a importância da qualidade dos andamentos e como esta é influenciada por assimetrias, a análise objetiva de movimento pode contribuir para a quantificação e monitorização da locomoção. Este estudo retrospetivo teve como propósito investigar objetivamente se existia algum tipo de claudicação característico em cavalos com desmite proximal do LSB entre 2017 e 2022. Verificou, também, a correlação entre avaliações subjetiva e objetiva. Metodologia e resultados: Vinte e um cavalos Lusitanos foram incluídos neste estudo com base em registos de resposta positiva à anestesia diagnóstica da região proximal do LSB dos membros afetados. Dois sistemas de análise objetiva de movimento foram usados para a obtenção dos dados quantitativos das avaliações de todos os cavalos a trote à mão em linha reta no piso duro, assim como das avaliações em círculo nos pisos mole e duro. Claudicação de impacto foi a mais frequentemente encontrada em membros anteriores (MA), independentemente da superfície de avaliação. Por outro lado, os membros posteriores (MP) foram caracterizados por apresentarem claudicação de impulso ou de impacto e impulso. Relativamente à análise subjetiva, a maioria das claudicações eram de grau moderado, sendo que os MA foram identificados mais facilmente quando se encontravam no lado de fora dos círculos, já os MP aquando do lado de dentro dos mesmos. De entre as correlações verificadas, as únicas estatisticamente significativas foram entre o |MaxDiff| da cabeça e as classificações de grau de claudicação, quer os membros lesionados estivessem no interior (p = 0,02375) ou no exterior (p = 0,04167) do círculo na avaliação em piso mole. Principais conclusões: Apesar do LSB ser uma estrutura elástica, a sua ação e tensão principais ocorrem durante a fase de impacto da passada já que este previne a hiperextensão do boleto, o que explica que nos MA, devido a maiores cargas e falha na absorção do choque, este padrão de claudicação seja mais marcado do que nos MP. Quanto a estes últimos, a claudicação de impulso foi predominante e pode ser justificada pelo maior estiramento da parte proximal do LSB conforme o animal usa a potência propulsora e impulsora dessa estrutura dos MP durante esta fase da passada, em consequência de falha no armazenamento e uso eficaz da energia elástica na origem do(s) LSB lesionado(s). Os sistemas quantitativos usados neste estudo provaram ser úteis na caracterização de claudicação oriunda das regiões metacarpiana/tarsiana proximais em cavalos Lusitanos em treino e a competirem em dressage ou em exibições de Alta Escola. Este foi o primeiro estudo realizado no âmbito desta patologia músculo-esquelética com recurso a sistemas objetivos de locomoção, tendo como intuito aumentar a eficácia na prevenção e no diagnóstico precoce e direcionado através de adaptações dos pisos e regimes de trabalho, dos aprumos e da ferração, assim como dos tipos de claudicação apresentados.