As relações de conflito em contexto de trabalho - ocaso de uma organização de solidariedade social

Abstract

O presente trabalho de investigação constitui uma reflexão sobre as interacções humanas que se estabelecem no seio de uma organização de solidariedade social alentejana, mais concretamente, sobre as relações de conflito de interesses entre os membros participantes. A organização, que constitui o objecto de análise, encontra nos seus fundamentos a solidariedade social, pelo que, a cooperação entre os seus participantes constitui um mecanismo relevante para um serviço de qualidade, fundado nas relações sociais. A dinâmica das organizações, tal como neste caso em particular, é equiparada a um sistema, marcado pela complexidade, o qual comporta mecanismos sobrepostos e cruzados, múltiplas interacções e um leque de interesses organizacionais e particulares. O conteúdo destas estruturas é contemplado com subsistemas formais que designam o conjunto das regras, das normas e das políticas que se concretizam na departamentalização e determinação de procedimentos; e subsistemas informais que incorporam as múltiplas interacções entre as pessoas e os grupos, nos diversos níveis da organização. Este conteúdo é abordado por Jorge Vala et al (1994) quando referem a existência de estruturas organizacionais que se situam num contínuo, que os autores definem como dimensão mecânica e dimensão orgânica. A estrutura mecânica caracteriza-se pela formalização dos mecanismos de trabalho, pela especialização rígida das tarefas, pela metodologia dos procedimentos e pelos poderes que caracterizam cada um dos papéis funcionais, enquanto, a estrutura orgânica retira às funções a sua definição formal, no que concerne aos procedimentos, deveres e poderes, redefinindo-as, informalmente, através da interacção que se desenrola entre os actores participantes. No contexto das interacções, a actividade comunicativa assume-se como um meio privilegiado para a transferência da informação, através da partilha de significados que constituem uma cultura própria, marcada, esta última, pela doutrina e moral cristãs e pelas obras materiais e espirituais que regem os seus fundamentos. Os actores sociais expressam-se como personalidades integrais, recebem ensinamentos através do processo de socialização, mas, transportam os seus valores pessoais para as tarefas profissionais. Os membros podem possuir personalidades diferentes, formas diferenciadas de agir e pensar, mas, o trabalho direccionado para as pessoas, e, que envolve as pessoas, exige uma moldagem individual significativa, uma interacção e comunicação cuidada, ter firmeza sem magoar e evitar reacções emocionais, quer com os utentes, que beneficiam dos cuidados prestados, quer com os colegas de serviço que partilham o mesmo espaço físico e as mesmas preocupações. Em contexto de trabalho, emergem interacções sociais e interesses particulares, cuja dinâmica e complexidade nem sempre se apresentam de forma harmoniosa, contribuindo para a formação conflitos de interesses entre indivíduos, ou, entre estes e a organização. O conflito, que se apresenta como o resultado de sentimentos, atitudes, ou, interesses antagónicos e colidentes, integra a dinâmica da organização, pressupondo, relações de desentendimento, discórdia, inconsistência, oposição e desaprovação. Segundo Ruiz (2000), a realização dos objectivos da organização beneficia, de modo desigual, os interesses particulares dos seu membros, daí advêm, segundo o autor, as atitudes e comportamentos, de cada membro, como o manifesto pela insatisfação resultante da distribuição dos interesses. A designação atribuída, às organizações sociais, de sistema cooperante e conflitante, é o resultado da forma como os diferentes actores actuam, por um lado, cooperando para atingir os objectivos que lhes são destinados, mas, por outro, zelando pelos interesses particulares.