Contributos para o estudo da atitude dos professores de "ciências"

Abstract

"Sem resumo feito pelo autor" - Nos primórdios da década de 60. Portugal começou a incluir, nos seus programas escolares de Ciências Naturais (mais tarde designadas de Ciências da Natureza, Biologia e Geologia), referências explícitas à formação e desenvolvimento do "espírito científico" dos alunos. 0 entendimento que o Ministério da Educação faz desta expressão (espírito científico) é clarificado pela aperacionalização que apresenta dessa meta educacional, nos diversos programas. Esse entendimento ultrapassa a significação corrente da expressão, pois não só revela actividades que os alunos irão desenvolver utilizando a razão, isto é, que requerem procedimentos e relações racionalmente estabelecidos, como também actividades conducentes à formação e desenvolvimento de traços de personalidade dos domínios afectivo, moral, social e motor. Deste modo, parece-nos preferível utilizar a expressão "atitude científica" no lugar de "espírito científico", pois é aquela que na literatura da especialidade aparece como referente ao conjunto de objectivos expressos nos nossos programas escolares (GARDNER.1975; GAULD & HUKINS,1980; GAULD,1982). Neste pano de fundo, era de esperar que os professores deste grupo disciplinar organizassem o processo de ensino-aprendizagem tendo em atenção aquelas directivas. A experiência mostrou, porém, que os professores (e os manuais escolares dessas disciplinas) continuaram a privilegiar a componente cognitiva e dentro desta, o conhecimento factual, quase ignorando os restantes níveis superiores da cognição, no seguimento de uma visão tradicional do processo de ensino. Trata-se de um fenómeno que não é exclusivo do nosso país (HODSON,D. 1985; GAULD & HUKINS, 1980; GIL-PEREZ, 1978) mas que coloca, entre outros, o problema da formação dos professores. Na verdade, sendo eles os executores das directivas programáticas, é necessária que disponham de formação adequada que lhes permita a compreensão plena dessas mesmas directivas, 0 que inclui uma perspectiva crítica, para a sua posterior execução. A importância atribuída às atitudes pela generalidade dos sistemas educativos, particularmente pelo nosso, é justificada por questões de natureza social e ideológica. Com efeito, as atitudes são consideradas pela generalidade dos especialistas que se debruçam sobre elas, como estruturas básicas da personalidade que condicionam o que cada um de nós fará ou dirá em determinadas situações (EVANS,K. 1971; AJZEN. & FISHBEIN, 1980; KAHLE,L., 1984; SANCHEZ,J.E. & RUIZ,P.O., 1988). Assim sendo, as atitudes são entendidas simultaneamente como fonte, meio e finalidade das aprendizagens, donde releva a sua importância para a educação escolar. Sendo moldadas na interacção e pela interacção do sujeito com o ambiente (EVANS,K., 1971), interessam sobremaneira aos sistemas educativos, uma vez que os jovens passam a maioria do seu tempo nas escolas. A Lei n2'46/86, de 14 de Outubro, (Lei de Bases do Sistema Educativo) consagra essa importância através dos seus artigos 22,39,59,79,92 e 112. 0 segmento do sistema educativo que, no caso de Portugal, mais se ocupa do ambiente escolar é o da educação escolar e nesta desempenha um papel importante, a professor. Este ainda é um personagem fundamental na execução de qualquer política educativa, pois por ele passam, embora não exclusivamente, não só a criação das condições em que se irão cumprir as finalidades do sistema, mas também o controlo do ambiente escolar. É importante para o professor conhecer e compreender as atitudes dos seus alunos face à(s) disciplina(s) que lecciona para melhor executar o seu trabalho e, enquanto responsável pelo ambiente escolar, as atitudes dos seus alunos face a si próprio, face a eles mesmos, face à relação com os outras e face à escola. As atitudes são também importantes para os alunos pois, como alvos e sujeitos da educação escolar, interessa-lhes saber para ande e por onde vão. Além disso, como agentes da sua própria formação, as atitudes interessam-lhes para se apropriarem do que os rodeia, no caminhar constante para uma realização pessoal. Dentro da panóplia das atitudes emerge a atitude científica. A sua importância para o sistema educativo advém precisamente das características do meio no qual o jovem se encontra imerso. Esse meio está altamente influenciado pela Ciência e pela Tecnologia que exercem uma cada vez maior influência no quotidiano dos cidadãos. Para interpretarem e se posicionarem nesse meio, os alunos necessita m compreendê-la e aperceber-se da complexidade das relações que se estabelecem entre a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade. A formação e o desenvolvimento da atitude científica parece servir esses propósitos. Com efeito, nos programas escolares, o seu valor formativo aparece-nos como imediato, na medida em que favorece os desenvolvimentos cognitivo, afectivo, moral, social e motor dos alunos, fornecendo-lhes determinados esquemas de pensamento, de relações consigo próprio e com os outras, de relações com os factos, fenómenos e objectos, de avaliação dessas relações. Para além disso, ainda lhes permite o desenvolvimento de certas habilidades e destrezas que irão* sendo necessárias ao longo da vida. Favorece também características de abertura de espírito e de criatividade, contribuindo para o "aprender a aprender", tão necessário numa sociedade em constante evolução científica, técnica e tecnológica. Para além disso, favorece também a tolerância e a humildade, pelo reconhecimento dos seus próprios limites, contribuindo deste modo para um posicionamento relacional favorável ao desenvolvimento, não só de si próprio, mas também da sociedade em que está inserido. Contribui pois, de modo notável, para a formação do cidadão tolerante, interventor e responsável.