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http://hdl.handle.net/10174/12036
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Title: | Mosteiro de S. Bernardo de Portalegre: estudo histórico-arquitectónico, propostas de recuperação e valorização do património edificado |
Authors: | Bucho, Domingos Almeida |
Advisors: | Jorge, Virgolino Ferreira |
Keywords: | Mosteiro de S. Bernardo Portalegre |
Issue Date: | Jun-1994 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | Introdução - Todas as épocas da história da humanidade podem testemunhar o interesse do Homem pelo seu passado, nomeadamente pelos artefactos que dão corpo a essa memória, ganhando valor simbólico. Individualmente, também é verdade que todos nós seleccionamos e guardamos as recordações da vida, desde os primeiros brinquedos. E tão ciosos somos dessa "tralha"... como se quiséssemos imortalizar, nessas pequenas coisas, a vida que flui sem retorno, inexorável. Mas o carácter distintivo dos nossos tempos, é que vivemos uma nostalgia pelo passado, como um todo, sem seleccionarmos alguma das suas partes constituintes, como o fizeram renascentistas e románticos, por exemplo. Dá-nos a impressão de vivermos numa sociedade que se teme a si própria, atemorizando-se pela velocidade com que tudo se desvaloriza, pelo precário, pelo provisório, pela instabilidade, pela falta de referências. Gera-se, talvez mais do que mina nostalgia pelo passado, uma angústia pelo presente, sobretudo porque nos escapa ao controlo, ganhando como que uma entidade autónoma. Mais ainda, a preocupação por esses restos subsistentes à voragem dos tempos impregna toda a sociedade, faz parte do programa político dos partidos, terra departamentos governamentais próprios, beneficia de avultada legislação protectora, possui técnicos especializados, instituições nacionais e internacionais e verbas próprias para a sua preservação. Por outro lado, o distanciamento temporal deixou de ser condição para a classificação do património. Hoje, classificam-se obras de arquitectura recentemente acabadas como património a salvaguardar. E tudo isto poderá ser sintoma, como observa Paulo Varela Gomes, de que a ideia de património é uma ideia da velhice do Mundo . Apesar dos atentados que continuam a praticar-se coma esses objectos classificados, longe vão os tempos em que o património era bandeira de luta de uns quantos clarividentes corno Almeida Garrett, Alexandra Herculano, Mendes Leal, Gabriel Pereira ou Ramalho Ortigão. Longe vai o tempo em que o património constituía passatempo de coleccionadores, antiquámos ou arqueólogos mais ou menos "extravagantes"... Acompanhando essa progressiva consciencialização colectiva pelo valor cultural e económico (visão pioneira de Alexandre Herculano em Portugal) das coisas do passado, gerou-se uma nova e apaixonante problemática: como preservar o património? A sistematização e o debate académico desta problemática teve o seu forum na segunda metade de oitocentos. 0 arquitecto parisiense Eugëne-Emmanuel Viollet-le-Duc (1814 - 1879) foi o teórico e o prático mais seguido até ao fim do século XIX. Segundo ele, os monumentos deviam ser restaurados em estilo, refazendo-os segundo a forma prístina, em completo alheamento pelo estado actual do monumento, nomeadamente pelos estilos "espúrios" que o tempo foi estratificando sobre os períodos românico e gótico. Estes estilos ganham a simbologia das pátrias. Para este arquitecto, acrescentos ou decorações renascentistas e barrocas eram aberrações a purificar. 0 radicalismo da destruição liberal e a pura invenção da escola francesa indignaram homens de cultura comprometidos com os novos ideários político-culturais, como Víctor Hugo, em França, ou Alexandre Herculano e Gabriel Pereira, em Portugal. No entanto, o autor de Portugaliae Monumenta Histórica manifestava a mesma concepção de restauro que Viollet-le-Duc, filosofia que influenciará arquitectos e engenheiros portugueses, como Rosendo Carvalheira (m. 1919), no restauro da Sé da Guarda, Palácio de Sintra e Jerónimos, Ernesto Korrodi (1870-1944), na intervenção no Castelo de Leiria ou Augusto Fuschini (1843-1911) no restauro da Sé de Lisboa. Com a escola francesa nasceu o falso histórico, o pastiche, mas ficaram estudos monumentais de História da Arte Medieval, ainda hoje avidamente consultados, corno o Dictionnaire raisonné de l'architecture française du Xle au XVIe siècle e o Dicti'onnaire du mobilier (rançais jusqu'à la Renaissance, ambos de Viollet-le-Duc. Opondo-se acidamente à teoria e á prática do restauro em estilo, para o escritor inglês John Ruskin (1819-1900) a arquitectura e a natureza têm algo em comum. Os monumentos devem ser conservados, tal como os seres vivos, não interessando por vezes a forma brutal do socorro, mas chegará inevitavelmente o seu fim, natural, e nenhuma substituição desonrosa e falsa (restauro) o deverá privar da sua dignidade. Finalmente, em ruína, tal como a natureza, os monumentos ganham uma nova qualidade artística, consubstanciando o que os românticos de oitocentos apreciaram com a designação de pitoresco, ou pinturesco. A conciliação entre as posições extremadas das escolas francesa e inglesa, é feita pela escola italiana, representada por Camilo Boito (1836-1914). Pioneiro ideológico e prático da escola do restauro cientifico, Boito partilha a crítica de Ruskin contra o falso histórico, sem contudo aceitar a visão fatalista do desaparecimento inevitável do monumento. Em Questioni pratiche di Belle Arti (Milão, 1893), Boito advoga as acções de conservação mas admite também o restauro sob várias condições: diferença de estilo e de materiais entre o antigo e o novo, austeridade estética nas partes novas, exposição das partes substituídas em lugar anexo ao monumento, marcação da intervenção nas partes novas, constituição e exibição, ou publicação, de uma memória descritiva sobre a intervenção; sobretudo, exigia-se uma clara diferença visual da intervenção. Estes princípios, adoptados já no II Congresso de Arquitectos e Engenheiros Civis de Roma (1883), foram considerados como a primeira carta do restauro, influenciando posteriormente quer a Curta de Atenas sobre o restauro dos monumentos (1931), quer a Carta Internacional sobre a Conservação e o Restauro dos Monumentos (Veneza, 1964). |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/12036 |
Type: | masterThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Mestrado
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