Please use this identifier to cite or link to this item: http://hdl.handle.net/10174/11040

Title: A Literatura de Teixeira de Pascoaes
Authors: Franco, António Cândido Valeriano Cabrita
Advisors: Patrício, Manuel Ferreira
Keywords: Teixeira de Pascoaes
Texto narrativo
Texto dramáttico
Texto didáctico
Estudos literários
Issue Date: 1997
Publisher: Universidade de Évora
Abstract: "Sem resumo feito pelo autor"; - A obra de Teixeira de Pascoaes (Amarante, 2.11.1877-15.12.1952) não só nunca deixou de ser lida, pelo menos entre uma minoria, como encontrou sempre um resistente caroço de leitores activos, que puseram o máximo esforço no seu conhecimento, e isto mau grado a sua dispersão e até, o que é mais, os equívocos que a têm envolvido, e que levaram por vezes às mais desajustadas e incongruentes apreciações, cujo paradigma é o passo de Georg Rudolf Lind (1926-90) citado por Mário Garcia (1976: XVIII). Hoje, na linha dessa rejeição virulenta, tão instintiva como inconsequente, pode acrescentar-se juízo de Óscar Lopes (1996), cujos antecedentes devem remontar nele a um Abel Salazar. De qualquer modo, nada dessa repulsa física, mais emocional que racional, afectou, ou afecta seriamente, o entusiasmo de uma obra e da sua leitura. Mais que biógrafos, Teixeira de Pascoaes —que nasceu, viveu e morreu quase no mesmo sítio— teve, por isso, leitores fascinados com a abissal altura das suas ideias, a engenhosidade do seu discurso, marcado por modelos barrocos, e a originalidade dos seus esquemas imagéticos. Daí que não haja hoje, nem tenha havido ontem, uma biografia de Pascoaes, mesmo aceitando que existem estimáveis subsídios biográficos, primeiramente os de sua irmã Maria da Glória Teixeira de Vasconcellos (1971, 1996); a única que chegou a estar anunciada, da responsabilidade do seu tradutor alemão, Albert Vigoleis Thelen (1903-89), cujo título era Die GottIosigKeit Gottes ("O Ateísmo de Deus"), não passou, infelizmente, de um projecto. Os poucos fragmentos que dela nos chegaram permitem-nos, porém, perceber que mesmo essa biografia não era, como diz Olívio Caeiro (1989: 70-71), um "relato histórico objectivo de factos escrupulosamente datados nem ( ... ) retrato psicológico detraços esquemáticos ", mas antes uma pintura de sombras, romanesca e imaginativa. De igual modo, o trabalho de Alfredo Margarido, Teixeira de Pascoaes (1961), estampado numa colecção intitulada "A Obra e o Homem", o que nos levaria a aguardar um ensaio biográfico, revela-se, sobretudo, uma travessia apaixonada e avisada do pensamento de Pascoaes, despida de elementos biográficos, que se limitam só à "Tábua Bio-Bibliográfica" inicial. O mesmo sucedera já, de resto, com o estudo de Sant'Anna Dionísio, O Poeta, essa Ave Metafísica (1953), em que nada se adianta sobre o poeta e tudo sobre a sua obra. O trabalho do autor de Pensamento Invertebrado, contrariando as indicações do título ou interpretando-as livremente, é, antes de qualquer outra coisa, uma tentativa de captar os aspectos ou os esquemas ideativos mais pessoais de Pascoaes —o profetismo, o sentido metafísico, a heresia— e até de compreender o carácter engenioso do seu discurso, a partir do humor vivaz e espirituoso que nele se faz sentir. O mesmo acontece hoje com o trabalho de Mário Garcia, Teixeira de Pascoaes — Contribuição para o Estudo da sua Personalidade e para a Leitura Crítica da sua Obra (1976), que Jacinto do Prado Coelho considerou ser "o estudo global, amplamente informado, que a excepcional figura do poeta reclamava" (Colóquio-Letras, n° 40, 1977: 85), em que a indagação em torno da personalidade do Poeta é quase insignificante quando posta em paralelo com o esforço exegético em torno da obra. E esta verificação diz ainda respeito aos mais recentes trabalhos de conjunto publicados sobre a literatura de Pascoaes, Estética da Saudade em Teixeira de Pascoaes (1992), da autoria de Maria das Graças Moreira de Sá, e O Pensamento de Teixeira de Pascoaes (1995), de Jorge Coutinho. É nesta linha de magnetização por um discurso, um pensamento, um imaginário —em suma, por uma (ou pela) literatura— que se insere o presente trabalho. Julgamos discernir que o essencial de Teixeira de Pascoaes está no seu próprio discurso, enovelado nos talentosos enredos dos seus textos. Daí que a melhor biografia do autor seja, como viu Thelen, uma biografia quimérica, de discurso, em que falar do engenho seja também uma forma do génio. Está fora de questão, no caso, a biografia histórico-psicológica. Por isso, o nosso intento visa a obra e o discurso, numa travessia o mais exaustiva e completa possível, apoiada em todos os que nos precederam, mesmo que à partida a lírica do autor tenha sido por nós deixada de lado, não integrando o propósito do trabalho. Esta amputação, que pode parecer comprometedora, sobretudo para a exaustividade, tem porém aos nossos olhos uma justificação. A lírica de Pascoaes, iniciada em 1895 com a publicação de Embriões, ou se quisermos em 1898 com o poemeto À Minha Alma e a colectânea Sempre, tem sido a parte mais estudada da obra do autor, a ponto de, metonimicamente, lhe tomar, muitas vezes, o lugar. Dizer a lírica de Pascoaes é para muitos sinónimo de dizer a literatura de Pascoaes. Foi isso que aconteceu logo em 1912 com os artigos de Fernando Pessoa, publicados na revista A Águia e no jornal República. A "nova poesia portuguesa" de Pessoa é, cripticamente, a poesia lírica de Teixeira de Pascoaes, cujo emblema na altura é a "Elegia" de Vida Etérea (1906). O livro de estreia de Jacinto do Prado Coelho, A Poesia de Teixeira de Pascoaes (Ensaio e Antologia) (1945), é quase todo ele dedicado ao lirismo de Pascoaes. Jorge de Sena publicou um livro, A Poesia de Teixeira de Pascoaes (1982), de novo uma abordagem quase exclusiva do lirismo de Pascoaes, tanto na selecção depoemas como na introdução crítica da autoria de Sena. Mais recentemente, Silvina Rodrigues Lopes publicou também um livro chamado Poesia de Teixeira de Pascoaes (1987), todo ele consagrado apenas ao lirismo do autor. Como facilmente se vê, a parte lírica da obra de Pascoaes, que mereceu a devotada atenção crítica de um Pessoa entusiasta, mas friamente analítico e imparcial, não se encontra tão olvidada como seríamos, por vezes, tentados a pensar. Não há quaisquer estudos sobre a sua obra narrativa, dramática ou didáctica que se possam comparar com os votados à sua lírica. Só a didáctica ou o pensamento têm merecido, ultimamente, com os trabalhos de Manuel Ferreira Patrício, Jorge Coutinho, José Manuel de Barros Dias, José de Oliveira Casulo ou Paulo Samuel, alguma atenção. E, no entanto, o Poeta não foi menos fecundo quando se entregou à prosa e ao verso narrativos ou dramáticos, dois campos onde os estudos interpretativos, sobretudo de conjunto, são incompreensivelmente raríssimos. Não há até hoje um único estudo de conjunto sobre a narrativa em Pascoaes, mau grado este modo poético ser ainda mais extenso no autor que o lírico e, porventura, mais importante que ele, como parecem indiciar as inúmeras traduções estrangeiras de alguns dos seus géneros narrativos. Ora foi justamente a obra narrativa, a dramática e a didáctica, quer dizer as menos trabalhadas, mas não as menos fecundas, que privilegiámos no nosso estudo. Esperamos com ele desfazer a ideia de um Pascoaes exclusivamente poeta lírico, mostrando ao mesmo tempo a inesperada riqueza do dramaturgo, do enunciados e sobretudo do narrador. Se o lírico passa por ser ainda pré-pessoano, mesmo que liminarmente, o narrador de livros como Duplo Passeio ou Santo Agostinho, publicados muitos anos depois da morte de Pessoa, arrisca-se já a ser folgadamente pós-pessoano. Situação singular, de qualquer modo, a de Pascoaes: ele estreia-se, de forma muito indistinta, nas águas reactivas e lusitanistas do neogarrettismo finissecular, mas acaba solitariamente, em pleno neo-realismo, a escrever uma literatura em prosa, inclassificável e inexplicável, que só tem paralelo com a dos seus melhores pares universais. Pode mesmo pensar-se que esse narrador é, talvez, o único caso verdadeiramente pós-pessoano da literatura portuguesa. Todos os outros derivaram dele. Há um Pascoaes que antecede Fernando Pessoa, mas há também um que lhe sucede. O primeiro é o lírico —de começo neogarretista e depois saudoso— de livros como Sempre, Terra Proibida ou Vida Etérea, o segundo é aquele que em 1934 publica São Paulo, consagrando-se a partir daí, em livros sucessivos, durante perto de vinte anos, como narrador. É este último que, antes dos outros, nos interessa revelar no nosso trabalho. E porque não só ele, já que parece ser na narrativa que reside a verdadeira questão da literatura de Pascoaes? Em última instância, é sempre bom recomeçar. É no recomeço que se descobre a identidade e a diferença. Preferimos, assim, deixar de lado a lírica. Por um lado, pensamos que o mais arriscado desafio da literatura do nosso autor se situa na sua prosa e não no seu verso, e, por outro, não queremos tudo exaurir. Temos a impressão que Pascoaes fica com esta reserva naturalmente mais bem servido e mais protegido. Caso o nosso trabalho se revele estéril, há sempre por tocar, em aberto, como excedência promissora, uma importante parte da sua obra, que, ainda por cima, comentadores tão qualificados como Adolfo Casais Monteiro ou João Gaspar Simões, Jacinto do Prado Coelho ou Jorge de Sena ponderaram como a mais notável. Encaramos, porém, antes de mais, esta nossa opção como recusa de uma totalidade avassaladora e circular; ela pretende ser, de e em princípio, abertura ao excesso criativo e dinâmico. Conforta-nos saber, além disso, que nós próprios, na atenção que periódica e regularmente votamos a Pascoaes, temos inelidivelmente concedido vantagem ao modo lírico do autor. O nosso livro Transformações da Saudade em Teixeira de Pascoaes (1994) podia, com efeito, chamar-se "a poesia lírica de Teixeira de Pascoaes". A sua indispensável adenda explicativa é hoje o estudo, mais escorrido e restrito, a que demos o nome de O Saudosismo de Teixeira de Pascoaes (1996). 2. As várias definições de poesia, aceite esta no seu sentido mais rigoroso, que é (ainda) o de Aristóteles, apontam para o seu entendimento como linguagem, apesar das diferenças que entre si estabelecem. Neste sentido as várias definições de poesia, sejam aquelas que conhecemos através de Platão e de Aristóteles, sejam as que vieram depois com o romantismo alemão, não são incompatíveis com a ideia de literatura, de resto recente, nem com o conceito de texto literário, se o conceituarmos não como um texto normal a que se empresta, por meio de artifícios, uma qualidade literário-poética, mas como um texto com uma virtualidade interior, e em primeiro lugar íntima à língua. A poesia, tal como a entendemos aqui, —na linha da Poética de Aristóteles, que toma a efabulação como mais importante que a versificação (1986; 1451 b), e na de um Álvaro Ribeiro que dizia preferir o movimento inspirado das figuras ao estudo dos ritmos métricos (1957: 80)—, não é artifício técnico, antes liberdade de criação. Porém, não podemos deixar de aceitar um certo número de condicionantes exteriores ao texto poético, que fazem com que este, apesar das suas características singulares e das suas virtualidades íntimas, nos apareça inserido numa dada tradição bem reconhecível, em primeiro lugar de modos, géneros e subgéneros. Qualquer obra poética participa de
URI: http://hdl.handle.net/10174/11040
Type: doctoralThesis
Appears in Collections:BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento

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